domingo, 4 de janeiro de 2009

VERGONHA DE SER BRASILEIRO (Samuel Rangel)


Publicado em www.anjosboemios.blogspot.com, Quinta-feira, 13 de Setembro de 2007
Volta a ser publicado aqui para que nunca esqueçamos dessa lição.


Em Curitiba 13 graus.O dia amanheceu estranho. Um silêncio pesava sobre as cabeças rápidas desse povo Curitibano.Não se pode ouvir um grito. Não se ouvia nem mesmo a intenção de reunir pessoas. A sensação era muito ruim. Tinha-se a impressão de que ele fora assaltado, sem reação, e enquanto o bandido corria, ele apenas fazia apontamentos do seu prejuízo. Aceitou sua pouca sorte.Em Curitiba 14 Graus.Dia 13 de setembro de 2007. Ontem, levou-se a termo o atestado de nossa burrice. Ontem, a portas fechadas, 40 senadores nos chamaram de idiotas. Ontem, ainda houve um que disse que a decisão no processo de Calheiros era a vitória da democracia. Aceitamos nossa pouca sorte.Em Curitiba 18 graus.E de nada adiantava o dia avançar, pois quanto mais o tempo passa, parece que mais o povo supera. A indignação muda vai sumindo em meio às tarefas do dia. O homem no seu trabalho não tem tempo de reagir. Apenas comenta com um sorriso amarelo a decisão dos seus representantes. E sorrindo aceitou a sua pouca sorte.Em Curitiba 25 graus.A dona de casa tempera o feijão e o arroz, e nem se da conta da falta do Bife. Uma televisão ligada em um cômodo da casa grita sozinha, como louca, sem merecer a atenção de ninguém. Como o seu feijão vai desmanchando, desmanchou-se o orgulho do povo que anda afoito pela rua. Não temos tempo de gritar. Não temos tempo de se indignar. Aceita a sua pouca sorteEm Curitiba 0 grau.Nada. Nenhuma sorte.Um silêncio sórdido de quem não tem mais orgulho. Uma vergonha sem cor, sem voz, e sem testemunha. Quem somos nós que não reagimos, e nem falamos? Olhamos a política e suas paspalhices como se acontecessem na casa ao lado.A notícias não são boas. As paspalhices aconteceram bem aqui, em nossa casa, no meio de nossa gente, com aqueles que se dizem representantes do povo.E nós que só sentimos é vergonha de ver nossas camisas amarelas serem manchadas quando perdemos para a Argentina no futebol. Se tais absurdos acontecessem na vizinha Argentina, por certo o sangue correntino haveria de incitar uma reação.Nós, os brasileiro, apenas assistimos os fatos e aceitamos nossa nenhuma sorte.O que podemos fazer?Fazer não é lá nosso grande talento. Quem sabe uma sequela da ditadura militar. Como se uma voz sussurrasse em nossos ouvidos: Aceite. Aceite Aceite!!!E aceitamos.Mensalão e Marcos Valério? Aceitamos.Narcotráfico e Máfia dos Jogos? Aceitamos.Impostos em 43 porcento, e 33 porcento de malversação do dinheiro público? Aceitamos.Polícia Corrupta e Eleições da Falsa Democracia? Aceitamos.Gente morrendo nos hospitais, e os remédios mais caros do mundo? Aceitamos.Favelas podres e gente sendo tratada como animal? Aceitamos.Aceitamos a vergonha. Nos dão as vestes mais ridículas da insensatez, e as vestimos sem pompa.Nos dão a bebida amarga da desilusão, e a tomamos em um só gole. Nos servem alimentos podres de esperança perdida, e mastigamos. Aceitando nossa nenhuma sorte.Será que não é conosco?Como você se sente?Como se sente seu filho?E seu pai, que tantos valores tentou lhe passar, como se sente?Apenas posso dizer que ontem vi Calheiros sorrir, e sem querer fazer nenhuma intriga, parece que era de você.
Postado por Samuel Ricardo Rangel Silveira às 12:18

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